segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

A MASCARILHA



Traz a folia no rosto
Ao invés de a ter na alma
A disfarçar o desgosto
A sucumbir a calma.

A Dona do disfarce
Até o estômago pinta
Logo entra em catarse
Seu corpo em festa vomita.

É ela sua única crente
Por isso alimenta a pança
Todos sabem que mente
Mas deixam continuar a dança.

Ela quer sobressair
Nunca se cansa de ser falsa
Até de si tenta fugir
Nem no confronto se alcança.

A Dona da mascarilha
Assusta-se ao espelho
Grita, espeta a forquilha
Será o diabo de vermelho?!

Num olhar de dupla face
Volta a confrontar o espelho
Vê um quadro nu e velho
Espera que a pintura passe.

Foi bom ter-se confrontado
Esperar – sem agir – não dá resultado
Retira o batom do estômago
Os olhos derramam num lago.

A Dona da mascarilha
Quer deixar de ser o que (não) é
Talvez porque não brilha
Desmancha-se da cabeça aos pés!

Há tempo ou será tarde
Para acabar com a farsa?
- Que olhar agora a alcança?-
Pior que a desgraça
Só um peito covarde!



25.02.17


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

EU E TU - CORPOS NOSSOS | DUETO COM DINIS MUACHO












Nos dias em que o meu desejo
Estremece em todo o teu corpo
A língua implora-nos o ensejo
O teu beijo é o cais onde me demoro
Asa de gaivota a implorar
Um abraço que se quer soltar
E tantos sonhos por viver
És tu quem eu quero escolher para me acompanhar
No sonho da vida e do querer…

Há gestos que nos denunciam
Há sombras que nos impelem
Há crenças que anunciam
O vinho novo nas peles que se enrolam
E poro a poro se revelam
E beijo a beijo se evolam
Nas paredes do prazer se descobrem
Ao morder como quem abraça
Pouco a pouco em nós, a ternura se enlaça
E os beijos calam os medos
Nos recônditos da alma desvendam-se segredos
Que por ti não posso revelar
Só a memória nos irá salvar
Dos enlaces dos nossos corpos.



23.02.17

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

MITO DOS DEUSES



Eles dizem que são Superiores
E eu questiono – tudo – porquê?
Se são efetivamente melhores
Que me digam o que tenho de fazer
Para Ser
Como Eles…


Desato os nós da alma
O que está debaixo do Manto Sagrado?
Perco o norte aquando a calma
E olho para todos os lados…

O que está 
Atrás da porta?


Há fantasmas… Se os há!
E corpos a preto e branco.
Ao futuro tento dar corda
Oh! Que desencanto! Que desencanto!
Será que algum sonho me acorda?

Não sei se grito
Se rezo ou choro agachada
Sei – sim, sei! – que o Mito 
Aos poucos me desvendou
O meu corpo cedeu, a alma arruinou
E o confronto deixou-me estilhaçada…


A fuga não é minha missão
Não é solução abandonar-me
Fixar o passado também não! 
Tirem-me já o rótulo de derrotada
Quero ser a Deusa consagrada!


Não me venham calar
Deixem-me exteriorizar!
Quero caminhar em frente
Não me tentem agarrar
Quero ser pessoa, não gente!


Há gestos que se contradizem
Limalhas que me consomem
Demais.
Por favor, não me pisem! Não me pisem!
Não mais!

Almejo os laços do destino
As crenças da Vossa sorte
E se quebro as amarras do desatino
Entrego-me apenas à morte.



20.02.17

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

SEMENTES DE AMOR



No início era uma força subtil que me conduzia ao encontro do teu rosto. Pouco interessava o teu nome ou as vestes que trazias. Apenas sabia que dos teus lábios se adivinhavam sorrisos como se fossem rosas vermelhas a entreabrir, num perfeito dia de sol, à beira-mar. Imaginava os nossos beijos adocicados, banhados em favos de mel e o toque das tuas mãos como poesia em lume brando, onde eu aquecia as noites de inverno.

Desde que te contemplei ao pormenor, nunca mais fui a mesma. No cais dos meus olhos corriam intermináveis sonhos em tons de arco-íris e, as dúvidas convertiam-se facilmente em certezas, de que o caminho seria mais risonho do teu lado. Os teus pés dedilhavam trilhos destemidos, quase perfeitos, os medos dissipavam-se e os meus passos agigantavam-se com a melodia da tua presença.

Cultivei dentro de mim o meu amor por ti. As sementes cresciam com o brilho dos olhos. Eu regava esse amor todos os dias, mais do que a mim própria. Ele florescia, eu esmorecia.

O teu olhar não compreendeu, o teu corpo não cedeu ao encanto do meu e o amor arrefeceu. Não contemplávamos o mesmo céu. O meu amor morreu por falta do teu.


Logo me afastei, doeu muito mas, enfrentei e aceitei. Outras sementes deitei. Pisquei o olho ao amor-próprio e outra paixão cultivei. Perdi(-te), mas ganhei(-me)!
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